Como é que tudo mudou tão depressa? Será que sou eu que não tenho andado a tomar atenção as coisas? Deve ser isso certamente.
Não falo nisto como um aspecto negativo. Estou a falar nisto do tipo... «oh, os dias passaram tão depressa que eu nem sequer notei!» E aqui falo nas mudanças que surgiram com a passagem desses mesmo dias. Porque até a forma de ''esquecer'' foi levada a um tamanho extremo que, por exemplo, o Zé agora mudou-se com a Maria. E é estranho ver o Zé com a Maria. Porque antes o Zé vivia ali na rua de cima e, agora sem ele, as coisas mudaram. Já não há música, gargalhadas sentidas, nem gritos das ''festas'' mais do que animadas em que a frase que passeava de boca em boca era: «vamos fazer isto todos os dias!». E bem, a casa agora está ''desabitada''.
Mas ainda assim, as coisas no seu ''esquecimento'' são um tanto curiosas. Porque cada vez que o Zé passava pela casa dele, olhava-a com uma certa ternura, e esta era redobrada quando ele ficava séculos sem lá passar. Numa caminhada lenta, o Zé inspirava o cheiro que lhe era tão familiar da relva fresca, que era quase sempre cortada todas as manhãs pelo vizinho, e ficava ali parado, a imaginar a Maria com um bébézinho ao colo a espera que ele chegasse do trabalho.
O vento, então, trazia o perfume dela numa perfeita corrente de ar e, trazia também, como um brinde, umas pequenas memórias da vida anterior. Ele conseguia ouvir as músicas numa solene melodia, os passos na madeira ressequida da sala e as vozes que por lá passaram nos ''anos'' em que lá viveu.
Maria sorria, - parecia cheia de paixão - e ele enchia o peito de felicidade por ver a junção do sorriso dela juntamente com a porta da ''velha casa'' aberta. Porque parecia que o que pensava ter ''deixado de lembrar'' estava ali perto. Mas depois retomava o seu caminho de cabeça baixa e punho cerrado, porque sabia que ao mesmo tempo, tudo estava tão longe e já demasiado desviado dos seus planos.
''True story''
Adorei!
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