A cidade está esvaziada de corpos puros. Um manto cinzento e pesado envolve as estradas ligadas por um vale de incertezas. Chegou o Outono e o frio recomeçou a preencher as ruas.
As árvores retomaram a sua dança e o cansaço irá-lhes abater com a queda do que naturalmente fazem parte delas. A chuva, a chuva agora derrama lágrimas doces, cansadas de um mundo tão repetitivo.
O que é que sou aqui? No meio de uma cidade de luzes apagadas, suspiros suspensos no ar e sorrisos tapados pela neblina do tempo?
Eu caminho agarrada a uma mão vazia, gelada. Sinto-me protegida por um corpo desconhecido e pelo cheiro do perfume que revivo na minha imaginação.
Não vejo ninguém com coragem. Não existe isso no ar. Essa força não transparece nos olhares perdidos de um ponto de focagem. As pessoas parecem meras estátuas coloridas com um coração dispensável. O que nelas bate é, somente, o relógio temporizado para a chegada morte.
Um dia, quando o sol chegar e o assobio do vento desaparecer, já não estarei aqui. Devo ter fugido algures para longe de canetas e livros velhos com folhas de papel por preencher. De vozes com timbres fortes que persistem em ecoar em todo o lado, numa sinfonia de palavras e chamamentos espalhados por movimentos.
Não sei se vais sentir a minha falta. Mas, se sentires como senti a tua, poderás, também, cheirar o meu perfume, sentir o meu perfume ao redor do teu corpo, pela tua imaginação. Assim, poderás sobreviver como sobrevivi. Mesmo que o tic-tac fique mudo e vivas na ilusão de que as luzes, que desenham os contornes do espaço da cidade, foram acessas. Mesmo que vivas na ilusão de que a escuridão do nevoeiro desapareceu, assim como o cheiro do alcatrão molhado e as folhas secas que outrora, estavam rendidas no chão. Mesmo que vivas na ilusão de que ao teu lado, estou eu... e que assim ficarei para sempre.
epá, UAU! ;_; está lindo!
ResponderEliminarobrigada : D
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